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Mensagem do Dia Mundial da Marioneta

Por Ranjana Pandey
Tradução de José Henrique Neto


O Mar
O Mar sempre levou contadores de histórias e as suas narrativas de uma costa para outra, de ilha
em ilha, de um continente para muitos. Essas histórias, misturando-se e combinando-se,
marinando em caldos culturais diversos, tornaram-se mágicas e imortais.
O próprio mar tem sido matéria dos contos desde tempos imemoriais, com os seus dragões
marinhos, sereias e tantas outras criaturas fantásticas.
Foi pelas rotas marítimas que princesas e piratas, marinheiros e mercadores transportaram de
uma cultura para outra ricos enxovais, séquitos de artesãos e bufões, cargas de produtos exóticos,
bem como as grandes mitologias e ciclos épicos como o Mahabharata, o Ramayana, o Sagar
Manthan, Simbad o Marinheiro, a Viagem ao Ocidente dos chineses, as Mil e Uma Noites...
As histórias foram mudando cada vez que eram contadas, adquirindo subtis camadas ao longo
dos séculos, entretendo, distraindo, alimentando a alma de viajantes e aventureiros, vilões e
heróis de países longínquos e desconhecidos.
O Mar permanece mágico e misterioso, tocando a vida de milhões de pessoas neste planeta.
Alimenta, sustenta e habita a imaginação de todos. O Oceano é a força da qual emergiu toda a
vida neste planeta.
Mas a realidade dos nossos dias é constrangedora. O mar é hoje a nossa derradeira fronteira – a
última fronteira entre nós e a aniquilação da vida tal como a conhecemos. Hoje, o mar está
poluído, a arfar pela vida, estrangulado pelas redes da ganância, pelos detritos da negligência. Foi
reduzido a uma sopa de lixo, com corais e vida marinha moribundos. Cada um de nós é, de
alguma forma, parte desta triste realidade.
Lanço um desafio a todos os contadores de histórias de hoje: reacendam o respeito pelos Mares
da Terra – o nosso único lar.
Demos bom uso ao nosso talento coletivo! Desde já!

Ranjana Pandey

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A minha visão das marionetas
Por Ranjana Pandey
O que as marionetas significam para mim. Para dizer a verdade, só pensei nisso mais a fundo
quando o “Peruchet” faleceu. Porque só então percebi que, se não fosse por esse professor
admirável e tão generoso – Franz Jagueneau – eu não teria sido marionetista. Não teria tido esta
arte, esta paixão, este profundo interesse, esta curiosidade – as marionetas – que tanto me
amparou quando eu mais precisava. Não em termos de ganhar a vida ou de ter uma identidade
profissional, mas simplesmente por ter mantido a minha sanidade e sentido de humor nos
momentos mais sombrios da minha vida.
Ajudou-me a esperar melhor maré, a dissipar as nuvens, ajudou-me a ver o lado mais leve das
circunstâncias. Podia-se tirar estatura aos vilões, a caricatura era uma arma secreta contra as
forças negativas...
Percebi que só havia uma coisa na vida que eu conseguia controlar: uma marioneta. Tudo o mais
estava fora de alcance, fora de controlo.
Para mais, quando comecei realmente a prestar atenção, dei-me conta da profundidade do
impacte. Espantou-me o poder resultante, vez após vez.
Aprendi instintivamente a utilizá-lo. Abriu portas a diferentes realidades, janelas para a mente das
crianças, vias largas para o coração das pessoas... houve muitos momentos profundamente
emotivos que tornaram a viagem memorável.


A autora
Marionetista indiana, dramaturga, encenadora de teatro, realizadora de televisão e educadora,
Ranjana Pandey, licenciou-se em Literatura Inglesa pela Universidade de Delhi, juntando-lhe um
Mestrado em Comunicação Social e um Diploma em Jornalismo. Teve formação em teatro de
marionetas na Bélgica com o Théâtre Toone, o Théâtre Tilapin e o Théâtre Royal du Peruchet.
Em 1982, Ranjana Pandey fundou e dirigiu Jan Madhyam (“Média do Povo” ou “Para o Povo”),
uma organização educativa comunitária centrada na marioneta que aproveita os recursos da
comunicação social. (N. da tradutora espanhola Susy López: Num programa multimédia para
crianças em idade pré-escolar, as marionetas, os jogos, a música, a dança e o artesanato
conjugam-se para estimular a imaginação creativa infantil, sob o tema “A aprendizagem é
divertida”.)
Na Índia, Ranjana Pandey é uma das pioneiras no emprego de marionetas para terapia.
Jan Madhyam lançou uma série semanal de espectáculos de marionetas (1984-1990) intitulada "Chowkoo-Pili"

(Chowkoo, o menino com a cabeça de cubo e Pili, a menina amarela) dirigidas a crianças de Delhi com deficiências

intelectuais. A série, realizada em parceria com Karen Smith e
Shubha Saxena, ensinava conceitos de aprendizagem e desenvolvia valores e competências
sociais. Os espectáculos semanais foram apresentados em escolas, bairros e vizinhanças da
Grande Delhi e da região de Haryana. Este trabalho continua, ainda hoje, a melhorar a vida das
pessoas com deficiência, dando especial atenção às meninas e às mulheres.
Outros programas de comunicação para o desenvolvimento que empregam as marionetas e a
acção dos média têm-se concentrado na alfabetização, nas necessidades dos desvalidos, na
ecologia, nas espécies ameaçadas, na higiene, na saúde e no combate à violência contra as
mulheres.
De 2000 a 2002, Ranjana Pandey criou e dirigiu o primeiro programa infantil de televisão baseado
nas marionetas. Esta série de dezoito episódios, Khullum Khulla (Livre e Aberto) foi emitida pela
Televisão Nacional da Índia, Doordarshan, com várias reposições ao longo de dezoito meses.
Ranjana Pandey dirige vários centros de formação de professores e de Comunicação Social,
incluindo a Jamia Millia Islamia (Islâmica Nacional) da Universidade de Nova Delhi. Também
ministra ateliers de marionetas ao serviço da educação, terapia e desenvolvimento.

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